Cantos, danças, orações e ritualísticas para as entidades ligadas a “Exu” dentro das religiões de matriz africana deram o tom da 2ª Marcha para Exu, realizada neste sábado (14/09) pelas ruas do Centro de Manaus. O objetivo é fortalecer e dar visibilidade ao culto e à fé dos povos tradicionais de terreiro na capital. Ao final, no Largo São Sebastião, ocorreu uma homenagem à memória da Ialorixá Mãe Nonata, líder religiosa, líder política e ativista dos direitos humanos falecida em 2021.
Organizada pela Articulação Amazônica dos Povos e Comunidades Tradicionais de Terreiro de Matriz Africana (Aratrama), o evento contou com apoio do Ministério da Cultura (Minc), da Secretaria Nacional de Mulheres do PT, da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Amazonas (SEC) e da Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Eventos (Manauscult).
Para a secretária Nacional de Mulheres do PT, Anne Moura, eventos como esse são importantes para combater a intolerância e o racismo religioso.
“Venho nessa marcha para apoiar. A liberdade religiosa está assegurada na Constituição. Tem vários pais e mães de santo de terreiro aqui em busca de nada mais do que a liberdade para sua religião. A gente precisa combater a intolerância religiosa. Temos uma lei, a 10.639, que garante o ensino da história afro-brasileira nas escolas. Participar de eventos como esse tem objetivo de dizer que as pessoas têm que professar sua religião e sua fé sem serem perseguidas”, disse.
Segundo o coordenador-geral da Aratrama, Alberto Jorge, a “Marcha para Exu” também tem o propósito de quebrar o estigma sobre a figura de Exu, que dentro dos cultos de matrizes africanas tem vários significados.
“Criou-se uma cultura muito errada de dizer que essas entidades são demoníacas. Dentro do entendimento africano, não existe isso do demônio ocidental, que vem da cultura hebraico-cristã”, explica Alberto Jorge. “Nós estamos nesse processo de construção. Estamos vendo surgir aqui uma cultura de manifestação espontânea do povo tradicional de terreiro de Manaus e a presença dessas pessoas ao lado do emblemático Teatro Amazonas significa dizer que quem é de terreiro precisa ter sua arte de fé, seu jeito de dançar, sua gastronomia, respeitados”, finalizou.
Homenagem à Mãe Nonata
Após sair da Praça da Polícia e percorrer as avenidas Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro, o evento chegou ao Largo São Sebastião, com uma homenagem à memória da Ialorixá Mãe Nonata Corrêa, falecida em 2021 e que estaria completando aniversário de 70 anos de idade neste 14 de setembro. Familiares, amigos e filhos de santo estiveram presentes.
Além de líder religiosa, Mãe Nonata era líder política e partidária, articuladora de movimentos sociais e ativista de direitos humanos – atuação que fez o seu caminho cruzar com a trajetória da atual de Anne Moura, na época ainda militante do movimento estudantil.
“Não se pode falar sobre liberdade religiosa, sobre combate ao racismo e sobre a luta de movimentos sociais sem falar de Mãe Nonata. A casa da Mãe Nonata, para além de quem era filho de santo dela, era uma casa que acolhia a todos e todas. O legado dela maior, muito além do que a política, é aquilo que ela podia fazer pelas pessoas, de acolher, de ser um lugar de paz, um lugar de resistência. Aquilo que Mãe Nonata nos ensinou muito bem, desde quando eu era jovem, nós iremos levar para toda a vida. Não daremos nenhum passo atrás”, disse Anne Moura.
Apoio do Minc
Segundo o coordenador do escritório do Ministério da Cultura no Amazonas, Ruan Octávio, o apoio do Minc é fundamental para eventos que celebram a diversidade religiosa como a “Marcha para Exu”.
“As religiões de matriz africana estão presentes na construção da identidade cultural do povo brasileiro, são peça fundamental para expressar a brasilidade do nosso povo. O Minc se faz presente para fazer um grito contra intolerância. É Marcha para Exu, mas você já viu padre, pastores. É um momento cultural e educativo. Nessas agendas positivas, o Minc vai estar sempre apoiando”, disse.
Com informações da assessoria