Por Alberto Jorge*
🎶No dia 08 de Fevereiro, quando o dia amanheceu.🎶
🎶O sino da mata anunciou, João da Mata nasceu.🎶
Nesse 08 de fevereiro, no Tambor de Mina maranhense, se celebra o dia de Rei da Bandeira – Seu João da Mata e toda Família da Bandeira.
Na rama que se originou no Terreiro do Egito (1866), Rei da Bandeira e sua família vem se perpetuando de geração em geração. Os Fundamentos (segredos e processos de consagração) já estão na 6ª geração.
A 4ª geração de Dançantes/Vodunsis com Rei da Bandeira, que se tem registro na Casa de Kadamanja até 1988, segundo narrativa do próprio Toy Voduno Jorge Itacy (naquele ano), era formada por Vodunsi Elisa, Vodunnon Francelino de Shapanan e o então Vodunsi, hoje Xɛ́byosɔnɔ̀, Alberto Jorge Silva.
Esse ultimo recebeu os Fundamentos definitivos do Rei da Bandeira, das mãos de Dom Jorge Itacy de Oliveira, em 18 de Janeiro de 1988, por ocasião de sua feitura naquela Casa de Axé. Outros dançantes da Casa, como Mãe Abília (que atuava com Seu Caçará), atuavam com os filhos e filhas do Rei da Bandeira.
Rei da Bandeira também foi o senhor de Mãe Lucimar, falecida com quase 90 anos de idade, ela era filha de santo de Mãe Joana de Xapanã que iniciou Pai Francelino, por mais de 40 anos teve terreiro aberto na avenida Augustura, em Belém.
Mas quem é o Rei da Bandeira e sua família?
Segundo as várias narrativas que ainda hoje se pode ouvir nos nove estados da vasta região Amazônica, em especial no Maranhão, Pará e Amazonas, essa família é formada por guerreiros, caçadores e pescadores chefiada por João da Mata, Rei da Bandeira, Rei da Boa Esperança
.
A festa da família é em 8 de fevereiro, dia em em algumas casas é servido somente vinho branco, que é a bebida tradicional dessa família.
Segundo Pai Francelino, é uma festa reservada, em que Encantados de outras famílias nem sempre descem. No entanto em algumas ocasiões em que esse tema era tratado, Pai Euclides Talabian discordava de tal seletividade.
Os Encantados desse clã são chamados bandeirantes e quando bebem usam o copo ou taça envolvido por um lenço amarelo. Na ausência de lenços dessa cor, usam lenços brancos.
Todos dançam calçados com sandálias de couro, mas se o pai, chefe do clã fica descalço, todos os outros fazem o mesmo. O senso de hierarquia é característica desta família.
Durante o toque (festejo) os Encantados dessa família são chamados pelo próprio pai e chefe da família na “boca do bàtá” (tambor), segundo uma tradição antiga, os cantos é que os identificam perante os demais e a família do terreiro.
Todos os bandeirantes afirmam sua nobreza e seu grande equilíbrio. Eles dizem que são aqueles que “içam bandeira no tremedal”, terreno cheio de lama, com a camada superior seca e dura mas que ao ser pisada afunda. São considerados Encantados de grande capacidade e ‘ ‘fundamento” e que nunca agem por impulso.
São Encantados nobres, mas também há os que são chamados de mestiços, caboclos.
Suas cores: verde, branco, amarelo e vermelho.
Segundo vários relatos João da Mata Rei da Bandeira — nobre português, veio para o Brasil trazendo uma família bastante extensa.
A dúvida é se no marco temporal teria sido no Brasil Colônia, ou a exemplo do Rei da Turquia e sua Família, isso teria se dado a nível de Encantaria, não havendo assim um marco temporal cronológico na história oficial.
Conta a lenda, que teve sete esposas, algumas delas rainhas, daí parte de sua descendência ser de nobres e parte de índios/caboclos mestiços.
É corrente a narrativa que Rei da Bandeira se encantou na Pedra de Itacolomi, ou a escolheu como lugar de Encantaria, a pedra fica na região da cidade de Alcântara, no Maranhão. Mas também há relatos de que ele poderia ser um Encantado vindo de um período medieval, onde teria feito parte dos exércitos do Imperador Carlos Magno (século III), que durante as Cruzadas, lutou para libertar a terra santa, das mãos dos muçulmanos.
Daí se explicaria o porque da Família da Bandeira reverenciar Santa Helena, mãe do imperador Constantino, (século III DC).
Como a maioria dos relatos míticos do Tambor de Mina, há sempre uma fusão entre narrativas europeias e brasileiras, onde guerras e batalhas ocorridas na Europa, na Terra Santa e na guerra do Paraguai, onde determinados fatos e momentos acontecem em um mesmo período e espaço de tempo que, apesar de distintos e distantes, como a Itália, Portugal, Nordeste e Sul do Brasil, se transformam em uma só narrativa, onde praticamente não há distância entre esses espaços geográficos.
O Rei bandeirante possui vários nomes como João da Mata, Caboclo da Bandeira, Rei da Bandeira, Rei Boa Esperança, Guardião, Caboclo Guará, em São Luís do Maranhão há quem afirme que seu nome também é Dom Emanuel, Reide Mônaco. Essa última versão também é encontrada no Pará.
O ponto comum das narrativas, é que ele descende de uma família de nobres, o que fica patente pelo brasão que apresenta em forma de ponto riscado, algo não muito comum no Tambor de Mina tradicional.
Seu sobrenome, da Mata, em nada o identifica com mata, no sentido de floresta, explicava o Vodunnon Francelino de Shapanan, muito embora muitos caboclos de mata tenham se juntado à família de Seu Bandeira, considerando-o como pai e apesar ainda dele chefiar uma família de caçadores e pescadores, com uns mais ligados à terra e outros ao mar.
(*) Alberto Jorge – Xɛ́byosɔnɔ̀n Alberto Jorge Silva Ọba Méjì
Nascido em 26 de Abril de 1960 em Manaus, AM;
Dotɛ́ do Xwɛgbɛ́ Xwɛgbɛ́ Acɛ́ Mina Gɛgi Fɔn Vodún Xɛ́byosɔ Toy Gbadɛ́
Coordenador Geral da Articulação Amazônica dos Povos e Comunidades Tradicionais de Terreiro de Matriz Africana – ARATRAMA
Fundador e Mantenedor da Associação de Desenvolvimento Sócio Cultural Toy Badé
Formação – Com formação em Filosofia e Teologia pelo Centro de Estudos do Comportamento Humano – CENESCH; Radialista; Psicólogo Clínico Especialista; Doutorando em Psicologia Evolutiva e da Educação.
É Conselheiro Titular do Conselho Estadual de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais do Amazonas; Conselheiro Titular do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial do Amazonas; Ex Conselheiro Estadual de Saúde do Amazonas; Ex Conselheiro Municipal de Saúde de Manaus;
Membro do Comitê de Saúde LGBT do Amazonas; pesquisador da Étnocultura dos Povos e Comunidades Tradicionais de Terreiro de Matriz Africana; militante há 35 anos nos Movimentos de Negritude, dos Povos Tradicionais de Terreiro de Matriz Africana, de Defesa, Conservação e Preservação do Meio Ambiente; e de Direitos Humanos.
As informações neste artigo são de responsabilidade do autor.
É um imenso prazer ter te encontrado e ser meu amigo faceano.Admiro muito seus textos,ideias,videos ,fotos e questionamentos que faz. Que bom poder aprender mais um pouco com você sobre a História e cultura afro-brasileira.Sobretudo,crenças e a religiosidade de matriz africana. A Umbanda e o Candomblé. Sinceramente a primeira vez que fui a um terreiro, era uma festa de Candomblé. Uma saída de Yaô.Me apaixonei logo pelos cantos,as Palmas,a dança o rito,os movimentos dos pés,o tambor é tudo mágico maravilhoso muito axé!
Valeu
Abraço