Por Alberto Jorge*
O vídeo mostra momentos de grande emoção na 19ª Celebração pelo Dia Nacional de Combate a Intolerância Religiosa, promovido pela ARATRAMA (Articulação Amazônica dos Povos e Comunidades Tradicionais de Terreiro de Matriz Africana), Associação de Desenvolvimento Sócio Cultural Toy Badé, Axɔ́súxwé Acɛ́ Mina Gɛgi Fɔn Vodún Xɛ́byosɔ Toy Gbadɛ́, Terreiro de Umbanda Nossa Senhora da Conceição, Instituto Nossa Senhora da Conceição e Paróquia de São Sebastião dos Fraudes Menores Capuchinhos – OFM CAP Manaus, nesta sexta-feira (20/01).
A berlinda com as imagens de Vodún Sakpatá / Shapanan e São Sebastião foi recebida com canto de louvor e aplausos pelos fiéis que lotaram a igreja.
Um segundo momento foi a entrada da relíquia (de terceiro grau) de São Sebastião, onde uma das filhas de Axé do Centro de Umbanda Nossa Senhora da Conceição fez parte do cortejo conduzindo o relicário.
Antes da bênção final, na fala institucional da ARATRAMA, no presbitério da igreja pontifícia, o Xɛ́byosɔnɔ̀ Alberto Jorge Silva Ọba Méjì, coordenador-geral da ARATRAMA, destacou a necessidade de união das pessoas e organizações religiosas de boa vontade, na luta no combate à Intolerância Religiosa, hoje, tipificada como Crime de Racismo. Como exemplo os atos criminosos praticados por evangélicos neopetencostais contra o 12º Festival Afro Amazônico de Yemanjá, durante o Réveillon Gospel realizado pela ManausCult, Prefeitura Municipal de Manaus, no dia 30 de dezembro de 2022, na Praia da Ponta Negra, sem que até o presente momento tenha havido qualquer manifestação da ManausCult, no sentido de dialogar oficialmente quanto as responsabilidades dos fatos ocorridos.
O Xɛ́byosɔnɔ̀ Alberto Jorge destaca também a assimetria e desproporção do investimento orçamentário feitos pelo Estado e Município entre as celebrações e manifestações culturais evangélicas e não evangélicas. Exemplificou citando a desproporção de investimentos entre o Réveillon Gospel, a Marcha para Jesus, de organizações evangélicas e celebrações não evangélicas como o Festival Afro Amazônico de Yemanjá, Balaio da Oxum, a festa da Imaculada Conceição e São Sebastião, cujas igrejas ficam no centro histórico de Manaus, cujas procissões e arraiais são centenários e fazem parte do calendário religioso oficial da cidade.
A alegação de falta de Dotação Orçamentária para as celebrações não evangélicas demonstra o descaso do Poder Público do Estado e do Município, para com as demais manifestações culturais religiosas.
É fato que o argumento da Laicidade do Estado não tem sido respeitada, abrindo-se exceções para grupos religiosos detentores de currais eleitorais.
Diante dos mais recentes acontecimentos, urge que os Ministérios Públicos Federal e Estadual façam uma rigorosa investigação quanto o privilégio dispensado para uns seguimentos religiosos e o que é dado como sobra para outros credos.
Como classificar a diferença entre as estruturas concedidas pela ManausCult para o Réveillon Gospel e o que foi dado ao 12º Festival Afro Amazônico de Yemanjá, pois foi algo gritante e altamente visível?
Numa leitura imediata, o ocorrido evidencia um flagrante e inaceitável crime de Racismo Estrutural.
(*) Alberto Jorge – Xɛ́byosɔnɔ̀n Alberto Jorge Silva Ọba Méjì
Nascido em 26 de Abril de 1960 em Manaus, AM;
Dotɛ́ do Xwɛgbɛ́ Xwɛgbɛ́ Acɛ́ Mina Gɛgi Fɔn Vodún Xɛ́byosɔ Toy Gbadɛ́
Coordenador Geral da Articulação Amazônica dos Povos e Comunidades Tradicionais de Terreiro de Matriz Africana – ARATRAMA
Fundador e Mantenedor da Associação de Desenvolvimento Sócio Cultural Toy Badé
Formação – Com formação em Filosofia e Teologia pelo Centro de Estudos do Comportamento Humano – CENESCH; Radialista; Psicólogo Clínico Especialista; Doutorando em Psicologia Evolutiva e da Educação.
É Conselheiro Titular do Conselho Estadual de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais do Amazonas; Conselheiro Titular do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial do Amazonas; Ex Conselheiro Estadual de Saúde do Amazonas; Ex Conselheiro Municipal de Saúde de Manaus;
Membro do Comitê de Saúde LGBT do Amazonas; pesquisador da Étnocultura dos Povos e Comunidades Tradicionais de Terreiro de Matriz Africana; militante há 35 anos nos Movimentos de Negritude, dos Povos Tradicionais de Terreiro de Matriz Africana, de Defesa, Conservação e Preservação do Meio Ambiente; e de Direitos Humanos.
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