Por Alberto Jorge*
Ontem, Sexta-feira Santa para os cristãos católicos foi um momento significativo.
Fizemos a mesa zănzànnùɖúɖú de MAWU-LISSÁ.
Uma celebração sincrética que junta Lissá e Jesus Cristo.
A mesa farta, com comidas brancas, sem sal, relembra o início da criação do universo, onde não havia sabor, apenas a luz; daí a cor branca, que também é uma forte influência da cultura muçulmana.
Na mesa, somente colheres de madeira. Pois a ausência de peças em metal, salvo o ajàrin / ganvíwenɔ̀ – pequeno sino de duas bocas, remete ao tempo em que não se havia descoberto o metal, e as primeiras liturgias apenas se usava pedras e madeira.
O peixe, o milho branco, o arroz, ovos, inhame, frutas entre outros, são partes de um ágape – banquete ou almoço de confraternização por motivos diversos (sociais, políticos etc.).
Até onde é válido o sincretismo?
Essa é uma boa pergunta, mas é sim um momento de socializar, confraternizar, de rogar à Vodún pela paz, por saúde, prosperidade!
Fizemos de acordo com uma tradição familiar, mas a cada ano estamos buscando ressignificar, reinventar, buscar as origens.
Particularmente, penso que as peças em louça devem ser substituídas por peças de cerâmica, de barro cozido, madeira, cabacas.
É válido manter a tradição, mas também é válido reafricanizar determinados elementos da liturgia dedicada à Vodún Mawu e Vodún Lissá – a grande Mãe e o grande Pai, que fazem acontecer, todos os dias, a recriação e evolução do universo por determinação de Ɖaɖa Sɛgbɔ / Aviɛ Vodún / Ọlọ́run Dotɛ.
As fotos mostram o início da preparação da mesa e seu encerramento.
A tradição da nossa rama, que vem do extinto Terreiro do Egito de São Luís do Maranhão, não permite a divulgação de determinadas liturgias internas.
Principalmente, no que se refere a MAWU-LISSÁ.
Parabéns e agradecimentos ao Lissánon Jonathan e aos nɔvice Miguel Guedes e Washington Junior pelo empenho na realização do rito da Mesa de MAWU-LISSÁ!
As informações neste artigo são de responsabilidade do autor.
(*) Alberto Jorge – Xɛ́byosɔnɔ̀n Alberto Jorge Silva Ọba Méjì
Nascido em 26 de Abril de 1960 em Manaus, AM;
Dotɛ́ do Xwɛgbɛ́ Xwɛgbɛ́ Acɛ́ Mina Gɛgi Fɔn Vodún Xɛ́byosɔ Toy Gbadɛ́;
Coordenador Geral da Articulação Amazônica dos Povos e Comunidades Tradicionais de Terreiro de Matriz Africana – ARATRAMA; Fundador e Mantenedor da Associação de Desenvolvimento Sócio Cultural Toy Badé.
Formação – Com formação em Filosofia e Teologia pelo Centro de Estudos do Comportamento Humano – CENESCH; Radialista; Psicólogo Clínico Especialista; Doutorando em Psicologia Evolutiva e da Educação.
É Conselheiro Titular do Conselho Estadual de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais do Amazonas; Conselheiro Titular do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial do Amazonas; Ex Conselheiro Estadual de Saúde do Amazonas; Ex Conselheiro Municipal de Saúde de Manaus;
Membro do Comitê de Saúde LGBT do Amazonas; pesquisador da Étnocultura dos Povos e Comunidades Tradicionais de Terreiro de Matriz Africana; militante há 35 anos nos Movimentos de Negritude, dos Povos Tradicionais de Terreiro de Matriz Africana, de Defesa, Conservação e Preservação do Meio Ambiente; e de Direitos Humanos.