Motoristas em Manaus, especificamente de carros, estão sendo surpreendidos nos últimos dias com os furtos de pneus. Ao menos dois episódios foram registrados neste mês: nos nos estacionamentos do Hospital e Pronto-Socorro João Lúcio, zona leste de Manaus, e da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
Para o especialista em Segurança Pública, coronel da Polícia Militar do Amazonas Damassírio Mamed, explica a prática criminosa decorre também com a anuência de receptadores, que comercializam os objetivos.
Amazonas Hoje – É o retorno de uma velha prática criminosa em Manaus? Há preferência de vítimas?
Mamed Damassírio – E a saga continua. A história se repete pra todos. Novos tempos, novas vítimas. Os furtos estão com novos objetos e locais preferidos pelos assaltantes na cidade de Manaus: pneus de carros. O crime de furto tem vítima, bens e locais preferidos pelos assaltantes: mulheres, locais isolados e o aporte financeiro.
Em Manaus, os furtos de pneus de carros entrou no rol dos criminosos. Na semana passada, vítimas que estavam no hospital João Lúcio foram surpreendidas quando se depararam com seus veículos sem os pneus. Novamente, o fato se repetiu no estacionamento da UFAM”.
Amazonas Hoje – Os proprietários de veículos estão vulneráveis em Manaus?
Mamed Damassírio – O que fazer diante desse aborrecimento que revolta o cidadão de bem que se sente impotente, inseguro e na certeza de que não conseguirá, salvo, raríssimas exceções, rever seus bens? A Polícia Militar está nas ruas e as delegacias estão atuando nas investigações para localizar milhares de autores de crimes praticados diariamente. Enquanto às vítimas perdem as esperanças diante de um Estado, que se apequenou para o crime, o cidadão continua sendo o elo mais fraco entre Estado e o criminoso.
Amazonas Hoje – Além do prejuízo financeiro, qual a maior dificuldade em combater esse tipo de ação criminosa?
Damassírio Mamed – O grande problema dos furtos, sejam de aparelhos eletrônicos, joias ou pneus, é chegar naqueles que lucram com a aquisição desses bens furtados, os chamados receptadores. Nessa fase em que o crime está consumado, cabe ao Delegado de Polícia Civil a atribuição de investigar e prender os autores. As demandas de ocorrência diárias de roubos, furtos e homicídios, como um todo, tornam os resultados de algumas ações pirotécnicas, como aquela realizada pelo secretário de Segurança, prendendo bêbados, dependentes químicos e residentes de rua, no centro da cidade, inexpressivas e inócuas. Mero oba oba!
Amazonas Hoje – Mais o que fazer, então, diante dessa problemática?
Damassírio Mamed – O que fazer diante dessa falha sistêmica do Estado da Segurança que parou no tempo, enquanto a população triplicou de tamanho? Leis mais rigorosas diante das omissões do Estado? Não concordo! Às leis não possuem relação direta com o crime, pois a violência é uma questão social e não expressamente um problema do direito penal.
A grande burrice de “alguns policiólogos” é achar que o problema da violência está nas leis que eles chamam de “fracas”. As leis que deixam políticos soltos, por crimes de corrupção, fraude a licitação, organização criminosa, por exemplo, não precisam ser “endurecidas” ou não são crimes?
O Brasil prende mal, é fato. Hoje, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) vem corrigindo distorções de anos praticados por ações abusivas por policiais contra moradores de bairros e periferias, que ingressaram no crime, muitas das vezes, pra sobreviverem naquele universo distorcido pela ilusão de uma vida real e glamorosa. As provas materiais que indiciam quase sempre seus autores, não passavam de farsas corrompidas. Hoje, no entanto, precisam ser armazenadas e transcritas, do início ao fim, para mostrarem uma lógica e razão de ser material probatório.
Amazonas Hoje – Qual a orientação que o senhor passa ao cidadão que foi vítima desse tipo de ação criminosa?
Damassírio Mamed – Às vítimas dos furtos dos pneus, não deixem de fazer um Boletim de Ocorrência, ainda que seja online, numa delegacia virtual. Peguem cópia desse BO e ingressem na justiça contra o Estado, cobrando a reparação dos danos.
O Hospital João Lúcio é gerido pelo Estado e tem o dever de não só colocar médicos e enfermeiros, mas dar segurança também. E, se for terceirizado, melhor ainda. A justiça não é lenta, ela sofre das omissões de controle por parte do Estado que usa suas forças estatais para atender autoridades e amigos, uma segurança pública seletiva e de favores.